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NA ORIGEM, A MÃE

texto de Monika Von Koss

Muito antes da ciência moderna descrever o surgimento do universo a partir da explosão de uma pequena bola de fogo primeva, que se expande desde então, nossos ancestrais pré - históricos já contavam a história de como o mundo se originou da Grande Deusa Criadora, ao mesmo tempo útero e força geradora do Universo.

O Rigveda, texto maior do Bramanismo, nos fala de Aditi, o grande útero que contém todo o Universo. Progenitora da criação cósmica, como uma mãe ela alberga em seu útero Agni, o Deus do fogo. Ela é a yoni ou vulva do universo, o útero - mãe que deu à luz todos os deuses do panteão védico. Por sua natureza generosa, ela é a vaca cósmica que nunca se exaure e que circula como a substância da vida em tudo o que existe.

Para o povo Dogon de Mali, a criação começa com Amma, um ovo que é a semente dos cosmos. Após vibrar sete vezes, rompe-se para revelar um espírito criador Nommo. Mas é da Suméria que nos vem o registro do primeiro nome de uma divindade criadora do Universo. Conta o mito que a mãe primordial do abismo aquoso é Nammu, a mãe que deu à luz o céu e a terra. Como dragão primevo que vive sob águas, é capaz de andar sobre a terra; dotada de asas para voar, respira fogo; representa os quatro elementos da criação.

Em Hesíodo, esta origem é chamada de Chaos, que, ao entreabrir-se (significado da palavra Khaos em sua forma verbal Khaíno), dá à luz Gaia e Eros. Em seu significado original, caos não se refere à desordem, mas ao espaço vazio do qual emerge a forma. Este grande vazio que, no mito nórdico, se localiza entre a luminosidade e o fogo do sul e o mundo de neve e gelo do norte, gera Ymir, o gigante de cujo corpo se forma o mundo dos seres humanos - de seu sangue, o mar e os lagos; de sua carne, a terra; de seus ossos, as montanhas; de seus dentes e garras e ossos quebrados, as rochas e as pedras. Esse mundo é guardado pela serpente marinha que circunda a terra e habita as profundezas do oceano.

Estas águas primordiais, sempre associadas a uma grande serpente ou dragão que circunda a Terra, são o grande útero abissal, o profundo maternal que recebe o nome Thiamat na Babilônia e Themis na Grécia. No Egito é Nun, cujas energias caóticas continham as formas potenciais de todas as coisas vivas. Tudo era água em todo lugar. O espírito criador estava presente nessas águas primordiais do escuro abismo, uma colina emergiu, a " colina do primeiro tempo", e esse foi o primeiro tempo da luz.
A física moderna afirma que o universo é uma teia dinâmica de padrões energéticos inseparáveis, um fluxo e mudança contínua de algo que não tem forma. Como águas primordiais, o cosmo orgânico se move ritmicamente, num movimento incessante. Os hindus o denominam de brahman, "aquilo que cresce", sem forma, imortal e em contínuo movimento. Para os chineses é o tao, o modo de ser da natureza.

Nos anos 60, surge a concepção de que o universo nasce do vibrar de minúsculas cordas que, como se fossem notas musicais, produzem os quarks. Inicialmente denominada de teoria das Supercordas, teve seu nome alterado para Teoria M, de matriz, isto é, mãe. É ao ritmo dessa música que Maha-Kali, a deusa do oceano de sangue, dança no círculo de fogo, antes que Shiva assumisse seu lugar como o senhor que dança os ciclos cósmicos da criação e destruição, os ritmos do nascimento e da morte.
Em nossa cultura ocidental, centrada na figura de um deus masculino, o mundo é criado a partir da palavra. Mas é uma palavra que ordena, não uma palavra que cria. A meio caminho da palavra como criação e da palavra como ordenação, está o mito maia que diz: "No ínicio, quando a face da terra ainda não está clara, apenas o mar sozinho está reunido sob todo o céu. Enrolada na água, envolta por penas verdes e azuis brilhantes, encontra-se a serpente emplumada Guarmatz. Do silêncio do céu acima, o Coração Celeste e Guarmatz começam a falar entre si, discutindo a criação, o primeiro alvorecer e o fazer de pessoas e seu alimento. Pela sua falta apenas, as montanhas e a terra magicamente emergem das águas e florestas de ciprestes e pinheiros instantaneamente cobrem o campo."

Aqui ainda estamos diante da palavra falada, fluida, da tradição oral, onde a história é reformulada à medida em que é transmitida, diferentemente da palavra escrita, que se torna lei, fixa, estática, perdendo sua musicalidade, sua fluidez, seu ritmo que a caracterizam como a serpente ou o dragão, o monstro das águas que o herói precisa vencer, ao instaurar o poder masculino. É através dos mitos heróicos que a serpente/dragão chega até nós. Personagem de tradições orais, é transformada no demônio ou monstro que precisa ser vencido antes que outra cultura possa dominar.

O tema das águas primordiais como origem da vida é encontrado nas mais diferentes culturas. São as águas que Thales de Mileto chamou de arché, a "causa primeira no começo de todas as coisas". Em seu sentido de começo, origem, arché compõe palavras como arcaico e arquétipo. É neste sentido que entra na composição da palavra matriarcado, que deve ser lida como "na origem, a mãe".

Monika Von Koss - é psicoterapeuta transpessoal - trabalha com o 'Espaço do Feminino' - www.caldeirao.psc.br

 


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