Quem é
a Madona Negra ? Qual a sua primeira face
?
È a Mãe Terra, o Princípio
Feminino, nossa Mãe Primordial, símbolo
de Sabedoria e Integração dos
Opostos. Como perpetuação das
poderosas Deusas da antigüidade, ela
volta com as características sagradas
de Maria. Metaforicamente Virgem, mas não
no sentido do Patriarcado, porque não
pertence a nenhum homem e sim a todos os homens.
Doadora de vida, dela provêm os homens
como frutos da Terra e a Ela todos retornam,
à Deusa Mãe - Mãe Terra.
As mais antigas manifestações
do culto à Mãe Terra datam da
pré-história. Uma delas é
uma pequena estatueta na qual era representada
com seu filho divino, ambos com cabeça
de cobra. Sua ligação com os
animais torna-se evidente: ora em baixo-relevo,
cravados na rocha, ora em outras pequenas
estatuas, Ela aparece cercada de leões,
pássaros, serpentes, leopardos, touros,
peixes - eis outras das suas faces!
Era a Senhora dos Animais que chega até
nós nas viagens xamânicas, o
Universo da Pré-história, no
qual o ser humano sonhava o grande Sonho,
grandes dimensões expressavam o poder
da gestação - o Ovo Cósmico,
círculos concêntricos, mulheres
avantajadas com protuberantes seios, nádegas
e barriga, traziam este poder. Nádegas
para parir, barriga para gerar e os seios
para nutrir. É a Mãe Creatrix,
outra de Suas mil faces.
Mais próxima dos tempos conhecidos,
a Mãe Terra revela outras diferentes
faces. Na Suméria, aparece como a muito
popular Inanna, de dupla personalidade: de
manhã é uma valorosa "Senhora
das Batalhas", Deusa dos Heróis;
à noite torna-se a Deusa da fertilidade,
dos prazeres e do amor. As "prostitutas
Sagradas" são suas Sacerdotisas,
e todas as mulheres da Suméria tinham
como obrigação para com a Deusa
Inanna se oferecerem sexualmente no templo
para os estrangeiros pelo menos uma vez por
ano. Os opostos que se encontram, se harmonizam,
e que é o grande poder da Madona Negra,
aqui se revelam ! O Sagrado e o profano.
Na Babilônia, Ela é Isthar. Entre
os hebreus, é Astarte. Na Frigia, Ela
é Cibele (a Diana dos 9 fogos), indicativo
de fertilidade. No Egito, Ela é Isis
e ainda aparece na face de Nerth a mais velha
e sábia das Deusas. Ela é o
céu noturno que se arqueia sobre a
Terra, formando com suas mãos e pés
as portas da Vida e da Morte. Da Grécia,
nós temos acesso ao mais rico acervo
sobre a Mãe Terra. Da cultura Cretense,
Mar Egeu, chega até nós suas
sacerdotisas vestidas de peles com os seios
à mostra e com serpentes e conchas
ao seu redor. Ela, a Mãe Terra, é
a Mãe Animal que, como cabra, porca
ou vaca, alimenta o pequenino Zeus. No centro
deste poderosíssimo culto à
fertilidade, vamos encontrar o touro, o duplo
machado, o Minotauro e o Labirinto.
A Deusa de Creta - Deméter - é
a Senhora do Mundo Inferior, das profundezas
da Terra e da Morte. Seu ventre terreno é
o ventre também da fertilidade de onde
a vida emana. Harmonizar estes Opostos é
a principal Força da Madona Negra,
ela que é o Negro da Luz. Como doadora
de vida, Ela é o útero eterno
que, na tradição Yorubá,
é a representação da
totalidade, o conteúdo e o continente
criados. Arquétipo vivo, Ela é
o Orixá Oxum, é a representação
deste poder da Madona Negra no Candomblé.
Senhora de todas as águas, que é
o sangue da Terra, é representada também
como um peixe mítico ou pássaro.
Salve OXUM !
Como Mãe Terra, a Madona Negra era
cultuada no mundo pagão com as faces
das Deusas do Olimpo, mas, com o início
da Era Cristã, este culto passou a
ser clandestino. Seus ecos que chegam até
nós são os mistérios
de Eleuses, no qual se cultuava Deméter
e Perséfone.
As 3 grandes Deusas do leste: Ísis,
Cibele e Diana de Éfesos, que eram
representadas como negras, se estabeleceram
no Ocidente antes da dominação
romana.
Em Paris, já em 679, Dagoberto II estabelecia
o culto àquela "[...] que hoje
recebe o nome de Nossa Senhora da Luz",
que é a nossa "Isis Eterna".
Talvez este seja o marco da transformação
da Mãe Terra pagã para a Virgem
cristã. As Cruzadas, porém,
foram as grandes divulgadoras da Madona Negra.
Estatuetas negras encontradas em fontes, grutas,
galhos de árvores, das quais emanava
um profundo sentimento do Sagrado, eram trazidas
por eles que as cristianizavam, colocando
o manto e a coroa de Nossa Senhora. Elas traziam
uma força incontrolável de liberdade
e seu culto era possuidor de um espírito
de sabedoria própria, que não
se submetia a nenhuma organização
ou lei nacionalista. É a volta da divindade
feminina que levanta o entusiasmo popular,
trazendo-a a um primeiro plano da consciência
coletiva. A Humanidade experiencia as mais
recentes faces da Madona Negra e Branca, com
as aparições marianas da Virgem
de Lourdes e La Salete no século XIX,
e Fátima no século XX.
Paralelamente, um fenômeno sociológico
assombrou o mundo - a revolução
sexual feminina, que emancipou as mulheres
por meio da igualdade de direitos e deveres.
A Madona Negra está a favor, politicamente,
do povo e de sua dignidade. Sua face mais
importante hoje é a da justiça
social. Ela é a consoladora dos Aflitos
e dos Excluídos e aparece misteriosamente
onde há sofrimento e opressão.
Em todo o mundo, encontram-se as faces da
Madona Negra com essas características.
Mas, para nós, a sua mais importante
face é a de Padroeira do Brasil - Nossa
Senhora Aparecida! Descoberta em 1717 no rio
Paraíba em São Paulo. É
uma pequena e esplendorosa figurinha negra
que se apóia numa lua crescente.
Conta a lenda que essa pequenina estátua
tornou-se extremamente pesada, impedindo que
o pescador a levasse daquele lugar, onde foi
feita inicialmente uma pequena guarita para
ela. Nesse lugar hoje existe uma cidade-santuário,
que acolhe peregrinos de todo o Brasil e do
exterior. Milagrosa, poderosa, misericordiosa,
ela traz conforto e alento para todos. É
a patrona dos ricos e pobres, das prostitutas,
homossexuais, travestis, motoqueiros, carroceiros
e seus cavalos, desempregados, artistas, e
até dos políticos!
Seu coração é grande
como a Terra, imenso como o Cosmo, e por isto
pode trazer alento ao sofrido povo Brasileiro.
Salve Nossa Senhora Aparecida !
Carminha Levy
Primavera de 2000
Instituto de Pesquisas Xamânicas
Rua Professor João Brito, 120 Itaim Bibi - São Paulo - SP- Brasil
Cep: 04535-080 pazgeiainstituto@gmail.com